🥕🚙 Os custos escondidos do teu carro!
Sabias que o teu carro pode custar o dobro do que pensas? Vê os números reais do meu próprio carro nos últimos 6 anos e pensa em tudo aquilo que pode escapar na tua análise quando pensas em ter carro!
Nos últimos artigos, falámos de casas e falámos de viagens. Hoje vamos abordar outra das grandes despesas que muitos enfrentamos: o carro!
Para muitos o carro é uma necessidade. Para muitos um desejo. Para uns é funcional, para outros status ou uma afirmação de estilo ou personalidade. Muitas vezes, é apenas algo que compramos, que temos e que mantemos, sem nos questionarmos sobre se de facto faz sentido.
E é deste ponto de vista que vamos olhar para o carro hoje, olhando para todos os custos que o carro esconde para lá do preço de compra e pondo tudo em perspectiva. E vamos fazer isso com base em números reais, acumulados ao longo de 6 anos e meio.
Vamos lá a um exercício de striptease financeiro deste vosso servidor!
Tudo começou há uns 7 ou 8 anos, quando, tendo sido pai pela segunda vez, senti que era altura de pensar em trocar de carro. O carro da família tinha já 8 anos e bem mais de 200.000 km, começava a dar muita despesa e era a altura certa para apostar num carro com mais espaço. O preço da compra? €35.232, já com custos de matrícula, alfândega, etc. (todas aquelas linhas que só aparecem no último momento quando já decidiste comprar um carro novo, negociaste um preço redondo e te sentas para pagar). Um valor alto, mas dentro do que tínhamos orçamentado.
Não era um carro de luxo, mas também não era um pequeno utilitário. Era um carro ajustado às necessidades e às possibilidades da família na altura. Era grande, cabíamos nós e mais alguns sempre que necessário, era cómodo e espaçoso para viagens longas e dava-nos paz de espírito na estrada, porque não era o primeiro que tínhamos desta marca. Além disso, apesar do espaço interior, por fora tinha dimensões normais, que o tornavam também apto para o dia-a-dia na cidade. Foi uma compra ponderada e conseguimos um desconto óptimo na altura! E, até ver, tudo se confirmou: continua a ser um fiel companheiro de viagem!
No entanto, 6 anos e meio depois, e tendo eu registado rigorosamente tudo o que gastei no carro ao longo do tempo, torna-se claro que o verdadeiro custo de ter um carro é muito maior do que o preço que tanto analisamos no momento da decisão de compra! E é isso que vou partilhar hoje contigo, esperando que possa ser útil para pensares no teu caso pessoal.
Nota: podes registar os teus próprios custos onde quiseres, mas, usando uma app pensada para isso, tens acesso a cálculos e indicadores sem esforço, podes comparar com dados reais de carros iguais, etc.. Eu uso o Spritmonitor, que podes instalar aqui: Android | iOS
Sem mais demoras…
Uma visão geral (e gráfica) dos custos do meu próprio carro.
Como se torna óbvio no gráfico, o custo inicial do carro representa menos de dois terços (62,1%) do custo total de posse do carro até hoje. Hoje sei que o carro não me custou €35.232, mas sim €56.744,15! E isto com 2 anos de confinamentos pelo meio e de ter passado a trabalhar 100% remote, e por isso ter feito muito menos km do que normalmente faria… E continua a somar…
Mas vamos ao detalhe:
⛽ Comecemos pela questão do combustível. Ao longo dos anos, gastei €9.127,59 em gasóleo e adblue. Obviamente é uma despesa muito variável, totalmente ligada aos km que cada um faça, mas também ao tamanho do carro, potência do motor, tipo de motor, etc.. É daquelas que, uma boa análise sobre o que precisamos vs. o que gostávamos de ter, pode ajudar a reduzir bastante. Nota: na altura o elétrico não era hipótese. Viam-se os primeiros Tesla, mas eram importados e custavam N vezes mais.
🅿️ Outra despesa muito ligada a esta, são os custos relacionados com as viagens e as deslocações diárias, nomeadamente as portagens, parques e parquímetros, que somaram até agora €2.752,02. Neste ponto o custo peca por defeito, porque nunca registei as despesas de parquímetros e parques que não paguei por Via Verde. Mas enfim… chamemos-lhe erro de arredondamento (deixem passar essa, caramba… já muito registei eu…).
👨🔧 Outro fator importante: as visitas à oficina. Revisões e reparações somam um total de €3.175,13. Existem marcas onde a manutenção (trabalho e peças) é mais barata que noutras. Existe também a possibilidade de não ir à oficina da marca, mas a outra aprovada para o fazer. Eu, enquanto o carro está na garantia, gosto de fazer tudo na marca independentemente do preço. Mas, no momento de escolher, é mais um fator em que temos que avaliar se ganha o desejo ou a necessidade.
🛞 Separei os pneus das despesas de manutenção, porque são um custo alto e regular, mas em que acredito que não deves tentar poupar, porque são fundamentais quer para a segurança, quer para o conforto e o próprio consumo do carro. Além disso, podes perfeitamente trocá-los em lojas especializadas onde te vão custar muito menos do que trocando nas oficinas da marca. Já substituí 6 ao longo deste período e custaram-me €888,56.
⚠️ O seguro anual custou-me €4.681,68. Não é apenas o seguro obrigatório. É um seguro bastante completo, de danos próprios (ou contra todos, como costumamos dizer) e que acho que é o adequado enquanto o carro ainda tem um valor elevado. Em caso de perda total, substitur o carro custaria se calhar 50 a 70 vezes mais do que me custa ter um bom seguro. Em minha opinião, sempre que perder um bem e ter que o substituir te causaria mossa e noites sem dormir, faz sentido segurar a possibilidade de isso acontecer. O carro é um exemplo crasso.
🧾 Finalmente, o Imposto Único de Circulação, o vulgar selo, custou-me até agora €887,17. Uma vez mais, isto pode custar mais ou menos consoante as características do carro que escolheres, mas é um custo a que não podes escapar.
E agora? O que é que fazemos a isto tudo?
Boa pergunta! Acho que podemos começar por calcular o custo por quilómetro percorrido. Com cerca de 86.000 km acumulados no conta-quilómetros, cada km percorrido custou-me cerca de €0,66. Este valor obviamente varia em função do tempo e de todos os custos identificados acima. Cada caso é um caso.
⁉️ Outro bom exercício, é transformar isto no preço por cada 100km. Neste caso estaríamos a falar de 66€ por cada 100km!!!
Nota: se quiseres usar os meus números para calcular grosseiramente estes valores para o teu carro, tens uma calculadora aqui.
Pois… Eu sei… Normalmente o que nos preocupa é quanto gasta aos 100 e pensamos em quê? 5, 6, 7, 8 litros, por cada 100km? O equivalente a €8, 10, 12?… Pois… parece que não…
E agora o que fazemos com esta informação toda? Pomos as nossas escolhas em perspectiva, claro…
💡 Quanto mais tempo mantivermos o carro, desde que os custos com a manutenção não disparem, mais desce o custo por km, dado que diluímos o custo inicial da compra por mais km. Por outro lado, a partir de determinada idade do carro, dado que todas as peças têm uma vida útil limitada, os custos de manutenção impedem que esse custo desça e possa até voltar a subir… Estão a ver a matemática da coisa, não estão? Eu tendo a manter o carro cerca de 8 anos, mas não fiz nenhum estudo sobre isso. Provavelmente estou errado nesse ponto. Fica a nota para estudo futuro.
💡 Estes valores fazem-nos também olhar para o preço das alternativas com outros olhos, não é? Será que pensar em ir ao Porto no Alfa, em 1ª, bem sentados, com ficha para ligar o computador, mesinha e tal, parece assim tão caro quando sabemos que no carro são €66 por cada 100km? Provavelmente não…
💡 E será que nas deslocações curtas, caminhar ou os transportes públicos não são boas alternativas? Ou mesmo os táxis ou as apps de empresas começadas por U ou por B, sabendo que o preço real destas (olhando para as últimas 6 vezes que as utilizei) varia entre €0,65 e €0,80 por km? Ou cerca de €1 a altas horas, com muita procura e quando muito provavelmente já não deverias sequer pensar em pegar no carro, porque 🍻?…
Sim… eu sei que disse que quanto mais km fazemos, mais descemos este valor, mas aqui o que está em causa é cada um pensar se de facto tem sentido comprar, ter e manter um carro. E não entrei sequer em considerações ambientais, stress, trânsito, etc., mas parece-me claro que, apesar de haver ainda muitas outras coisas a considerar neste tema (como o valor de usado, o conceito de propriedade vs. utilização, as alternativas de financiamento no momento da compra, como o renting, o leasing, o crédito, o cash…) há já aqui tema para uma profunda reflexão individual.
🤔 Se estás a pensar comprar ou trocar um carro, ou a pensar se poderias passar bem sem o carro que tens, recomendo que ponderes cuidadosamente as tuas necessidades e rotinas diárias e que tentes estimar os custos de propriedade que tens ou terás. Talvez optar por caminhar ou por alternativas de transporte para as deslocações diárias e alugar um carro para viagens longas possa ser uma opção mais económica e sustentável.
No meu caso, a minha conclusão é que, apesar de 6 anos depois ter uma noção muito mais exata do verdadeiro custo de ter carro, eu teria feito exatamente o mesmo: teria comprado carro, e muito provavelmente o mesmo. Isso deve-se a muitos fatores e ao meu contexto pessoal. E a resposta à questão de comprar ou não carro vai sempre depender da análise das circunstâncias de cada um. De qualquer forma, lembra-te:
💡 O importante é fazer escolhas informadas e conscientes, que se alinhem com os teus objetivos financeiros e de estilo de vida. Afinal, a liberdade financeira também passa por tomar decisões inteligentes em relação aos nossos gastos. Fica com um resumo dos pontos a ter em conta abaixo e boa sorte na tua decisão!
📒 TPC: Quer já tenhas carro, quer estejas a pensar ter, reflete sobre estes pontos, faz as contas e pensa qual é a melhor decisão para ti:
Replica os nossos cálculos no teu contexto, ou usa a nossa calculadora para encontrares o teu custo por cada 100 km;
Dos km que fazes por ano, pensa quantos se referem a viagens longas, viagens curtas e deslocações do dia-a-dia e pensa que percentagem dessas viagens e deslocações poderias fazer prescindindo do carro e como os farias;
Com exemplos recentes em que poderias não ter usado o carro, vê qual seria o teu custo usando outras alternativas;
Volta a olhar para a percentagem de trajetos que podias substituir, imagina o teu dia-a-dia sem carro e reflecte sobre se é ou não uma hipótese para ti.
Com carro ou sem carro? Vale o custo ou podes usar esse dinheiro de forma mais produtiva sem sacrificar demasiado o teu dia-a-dia? Partilha connosco nos comentários a que conclusões chegaste!
João, muito obrigada por este artigo. Estive a pensar escrever algo semelhante, no entanto, o teu artigo é bastante completo e mostra que ter um carro é um custo bastante elevado. Eu tenho um carro, pelo menos, contudo tenho famílias à volta em que cada adulto tem o seu carro (2 por família) e pode surgir aí alguma pressão de que "não é suficiente". Como casal, temos um carro há 4 anos e vamo-nos organizando de outras formas para que tenhamos ambos independência e custos baixos.
Acho que a dependência que temos do carro vai baixar se houver um grande investimento em transportes públicos, melhores parques de estacionamento ao redor de estações de comboio e metro para incentivar o seu uso. Quem mora no centro de Lisboa, acredito que pode trocar o carro pela bicicleta, quem mora nos arredores, eu chego mais rápido aos sítios de carro ou então uso Uber. É algo que tem de se mudar nos comportamentos individuais e nos incentivos gerais, na minha opinião.
Por isso é q desde q os custos de reparação não sejam superiores a 3000 a 4000€ mês não vale a pena trocar carros mesmo q velhos e com 500.000km.... o custo da posse no caso apresentado 35000/8=4375...