🥕 Jogos e ideias para ensinar finanças a crianças.
Neste artigo, partilhamos o nosso e-book com jogos de educação financeira para crianças e falamos de muitas dicas e princípios para começar a ensinar dinheiro às crianças desde cedo.
Bem-vindos a mais um artigo, este focado nas crianças 🧒🏼 - sim, porque a aprendizagem sobre dinheiro pode e deve começar cedo! Lançamos também um e-book com jogos financeiros para crianças que dá uma ótima prenda de Natal. 😉
Muitos pais evitam falar com os filhos sobre dinheiro. Talvez porque não saibam a melhor maneira de o fazer ou porque acham que os estão a proteger, mas na verdade isto tem o efeito contrário. Vamos usar um exemplo - o Joãozinho, a Maria e a Inês andam todos na mesma escola, mas falam sobre dinheiro de formas diferentes com os pais e amigos.
O Joãozinho fala mais vezes sobre dinheiro com os amigos que os pais.
A Maria fala com a mesma frequência com os amigos e os pais.
A Inês fala com mais frequência com os pais do que com amigos.
Segundo a OECD1, em média, a Maria e a Inês demonstram uma maior proeficiência financeira, estando um nível à frente do Joãozinho em termos de literacia financeira.
Não falar sobre dinheiro desde cedo torna conversas futuras mais difíceis, deixa espaço para que maus hábitos se criem e pode criar discussões desnecessárias.
Com o Natal e este artigo mais virado para as crianças, criamos um e-book com 4 jogos e 4 conceitos para ensinar finanças a crianças. São 10 páginas super divertidas para os pais usarem juntamente com os filhos. Muito transparentemente, colocamos o preço simbólico de €5,99 para apoiar financeiramente o projeto d’O Amador Financeiro, o qual é 100% gerido por voluntários.
Princípios básicos para ensinar dinheiro às crianças.
Desde criar um porquinho mealheiro até mandares o teu filho para a faculdade com um cartão de débito, ajudar as crianças a criar hábitos saudáveis em relação ao dinheiro pode exigir muito trabalho e paciência.
Mas ensinar crianças a serem financeiramente responsáveis desde cedo irá ajudá-las a lidar com desafios como valorizar o dinheiro, estabelecer limites, planear um orçamento e resistir às compras por impulso.
Os teus filhos vão acabar por aprender sobre dinheiro com alguém. Seja nas redes sociais, através de amigos our por influência familiar. Nós acreditamos que o mais importante não é impingir nada mas sim equipá-los com a educação básica sobre como funciona o dinheiro e capacidade crítica de avaliar comportamentos, formar opiniões próprias e tomar melhores decisões, como diz a OCDE2.
Existem muitas maneiras diferentes de ajudar crianças a perceber o dinheiro, mas reunimos alguns princípios básicos para ajudar os pais a fazê-lo.
1) Não deixar que o dinheiro seja tabu.
O dinheiro é demasiado importante para evitarmos falar dele. De acordo com o “Kids & Money Survey”3, 50% dos pais admite não falar com os filhos sobre dinheiro ou só fazê-lo uma ou menos vezes por mês (isto os Americanos, imaginem os Portugueses!).
Se há proteção a dar às crianças neste assunto é a proteção de uma educação financeira forte, para as proteger de más decisões futuras.
Evitar conversas sobre dinheiro leva a:
Desentendimentos entre familia por falta de alinhamento e expectativas.
Impede as famílias de trabalharem em conjunto para criar uma situação financeira melhor.
Cria maus hábitos de consumo e de gestão de poupanças.
Incapacita as crianças de se tornarem jovens capazes de coisas como pedir um aumento, gerir o seu orçamento de forma independente ou até decidir sobre um crédito.
As crianças são curiosas por natureza e fazem mil e uma perguntas. Algumas delas são relacionadas com dinheiro. Quem nunca recebeu a clássica “Oh mãe, podes compra-me isto?” ? 😅 Falar sobre dinheiro é usar estas perguntas como “desculpa” para introduzir princípios básicos e não simplesmente responder “Não, não temos dinheiro, filho.”.
Estimular estas discussões cria uma cultura aberta, um à vontade, e um hábito de falar regularmente sobre dinheiro. Estamos rodeados de situações que envolvem dinheiro e fazemos escolhas financeiras todos os dias. Quase todas são boas oportunidades para partilhar conhecimento com os filhos. À medida que surgirem discussões financeiras e os filhos estiverem por perto, fala sobre esses assuntos abertamente com eles, não escondas nem mudes a conversa.
2) Começar cedo (mas quão cedo?).
Embora nunca seja tarde para desenvolver bons hábitos financeiros, iniciar a conversa quando os filhos são pequenos tornará as coisas mais fáceis no futuro, quando os riscos forem maiores.
Um estudo da University of Cambridge sugere começar a falar sobre dinheiro aos 7-8 anos de idade porque é aí que os conhecimentos matemáticos na escola se começam a desenvolver ao ponto de se poderem relacionar com o dinheiro.
No entanto, é possível começar mais cedo (aos 3-5 anos) a introduzir conceitos básicos como o facto do dinheiro ser necessário para comprar coisas e a importância de poupar para o ter.
3) Aprendizagem experimental
É benéfico permitir que as crianças experimentem com o seu próprio dinheiro e, ao mesmo tempo, orientá-las no seu percurso de aprendizagem sobre finanças pessoais. Permitir que as crianças giram o seu próprio orçamento ajuda-as a desenvolver literacia financeira, competências de gestão de dinheiro e um sentido de responsabilidade. Ao dar um orçamento às crianças, elas aprendem o valor do dinheiro, como fazer escolhas e as consequências dos seus hábitos de consumo.
Esta educação financeira precoce pode levar a um comportamento financeiro mais responsável no futuro. No entanto, a orientação dos pais é essencial para garantir que as crianças tomem decisões informadas e aprendam com as suas experiências.
Ok, agora passando à prática.
Há pais que partilham os seus salários e despesas mensais com os filhos, para que estes percebam eventuais limitações financeiras, tenham uma melhor noção dos gastos e valorizem mais o trabalho. Outros preferem não o fazer. Embora recomendemos ensinar finanças usando exemplos reais (e quanto mais próximos melhor), a boa notícia é que é perfeitamente OK fazê-lo sem partilhar números. Conceitos como a poupança, a inflação, ter um orçamento, pagar dívidas e investir podem ser ensinados usando exemplos ilustrativos e adaptados à idade dos filhos.
Bora colocar esta teoria toda em prática?
Para além dos jogos que incluímos no nosso e-book, ficam aqui 4 ideias para pôr em prática e começar a trazer o assunto do dinheiro mais vezes “para a mesa”.
Criamos este e-book porque queremos que as gerações futuras sejam mais literadas financeiramente que a nossa. Por outro lado, é uma ferramenta ótima para que mais pais ensinem finanças aos seus filhos e, honestamente, uma forma de financiarmos este projeto 100% voluntário.
(Os pontos em baixo derivam de vários estudos analisados incluindo A Study of Several Financial Literacy Teaching Methods for Children)
1. Envolver os filhos em conversas de orçamento familiar.
Há decisões financeiras básicas que afetam a família toda e são uma ótima oportunidade de incluir os filhos na conversa.
Ir às compras: no supermercado, podem entrar com um orçamento de 20€ para o jantar, analisar em conjunto a zona dos preços baixos e ver o que está em promoção antes de decidir o que fazer para o jantar. Envolver as crianças neste processo estimula a disciplina de seguir um orçamento e sentir a realidade de ter recursos limitados.
Comprar algo novo ou um presente: a tua filha precisa de um par de sapatos novos mas só existe um orçamento de 50€. Podes deixá-la escolher entre comprar um par mais caro ou dois pares mais baratos. Pedir para que escolha e explique a decisão vai gerar uma conversa incrível sobre orçamentos, poupança, disciplina financeira e o dilema preço-qualidade.
Comparar preços: iniciar uma conversa sobre o porquê de algumas coisas custarem mais dinheiro. Pede aos teus filhos para te ajudarem a comparar preços do mesmo produto mas de marcas diferentes. Porquê que o mesmo produto é mais caro na embalagem azul do que na verde? O que é uma marca? Que outros factores que podem justificar um preço mais elevado? Todas estas questões são interessantes para começar a introduzir os conceitos de mercado e competição/diferenciação.
Para ajudar os teus filhos a ter uma ideia de como é o orçamento do mundo real, incentive-os (quando apropriado à idade) a usar ferramentas para monitorar hábitos de consumo e ver onde estão a utilizar o seu dinheiro. Rapidamente, estabelecer um orçamento parecerá natural. E se permanecerem com este hábito, estarão bem à frente da curva quando chegarem à altura de enfrentar o mundo sozinhos(as).
💡 No nosso e-book temos um “jogo” onde os filhos ajudam os pais nas compras de supermercado utilizando o valor unitário para encontrar os produtos mais caros e mais baratos. O objetivo é compreender que o produto com o valor mais elevado nem sempre é o produto mais caro, um grande passo para comprar de forma mais consciente.
Se quiserem comprá-lo e apoiar o projeto, fica aqui o link.
2. Dar uma mesada.
Uma das maneiras mais comuns de apresentar às crianças a ideia de gastos responsáveis é dando-lhes o poder e a responsabilidade de gastar dinheiro. Qualquer quantia pode ser uma ótima maneira de ensinar noções básicas de dinheiro às crianças.
O importante quando se dá uma mesada é garantir que há um comportamento vinculado ao recebimento desse dinheiro. É claro que há alturas, como um aniversário ou o Natal, em que uma criança pode receber dinheiro como presente, mas uma mesada deve ser vista mais como uma recompensa – algo que é ganho pela criança e não sempre como um presente. Estas expectativas podem estar ligadas ao desempenho académico ou às tarefas domésticas, o que interessa é que estejam claramente definidas e apresentadas à criança.
3. Falar de valores e Valores.
Outra estratégia mais popular é dividir o dinheiro da criança em três categorias: gastar, poupar e doar. Isto leva as crianças a pensar não só sobre o orçamento e a gratificação adiada, mas também as ensina a pensar sobre o seu lugar no mundo. Decidir para quais causas doar pode ser uma conversa familiar valiosa.
Fala também sobre desigualdade de renda e pobreza, à medida que surgirem exemplos na tua vida ou na TV, por exemplo. Compreender que nem todos têm a mesma quantidade de dinheiro – e o mesmo acesso às coisas que o dinheiro pode comprar, como comida, brinquedos, roupas ou mesmo uma casa confortável – ajudará as crianças a ter uma noção melhor do que é realmente importante.
Para as crianças mais velhas, podem manter esta estratégia ao mesmo tempo que introduzem maior independência na tomada de decisões. Algo como um sistema de envelopes simples, dividindo o dinheiro orçamentado em envelopes específicos destinados a cada categoria (roupas, transporte, entretenimento, etc). Tudo o que não for gasto é transferido para o mês seguinte. Ver o dinheiro nos envelopes (e especialmente vê-lo desaparecer) faz com que os gastos pareçam muito mais “reais”, especialmente em comparação com pagar com cartão de débito.
Se houver algumas coisas no orçamento que não são flexíveis – como poupar para a faculdade – então esse dinheiro pode contornar o sistema de envelopes e ir diretamente para uma conta poupança.
4. Deixar que cometam erros por si mesmos.
No final das contas, uma das partes mais difíceis de ensinar dinheiro às crianças é que elas inevitavelmente cometerão erros, e esses erros resultarão em perdas financeiras reais (e às vezes muito dolorosas). No entanto, é importante dar às crianças espaço e independência para testar certos comportamentos e aprender com as suas consequências4.
Quando a criança comete um erro, especialmente um erro caro, pode ser tentador tirar toda a responsabilidade e privilégio para sempre. Mas lembra-te que é sempre necessária alguma tentativa e erro (e paciência da tua parte) para que as crianças aprendam bons hábitos. A realidade é que a educação, tanto do lado de quem ensina como do lado de quem aprende, faz-se à base da experimentação. Cada família e criança é diferente e os erros são um investimento importante até se encontrar a melhor abordagem.
Temos um jogo no e-book muito interessante para ensinar às crianças o efeito do juro composto. Consiste em começar com uma moeda de 1€ e ir multiplicando por 2x o dinheiro a cada dia que passa até não saberem mais moedas e passarem a ser notas. Uma experiência que de certeza que ficará na memória das crianças como algo que só a magia pode explicar. 😅
Modelar hábitos financeiros responsáveis.
Para tudo, as crianças procuram nos pais a resposta para perguntas sobre como se comportar, falar, etc. – e a gestão do dinheiro não é exceção5. Uma grande parte de ensinar bons hábitos financeiros às crianças é garantir que tu próprio os tens e aplicas. Diz aos teus filhos quais as expectativas e normas em relação ao dinheiro na família, dando exemplos fáceis de seguir.
Algumas coisas para tentar podem ser:
Definir um orçamento antes de ir à loja e cumpri-lo ao fazer compras, mesmo que isso signifique deixar umas guloseimas para trás.
Falar abertamente sobre como poupar dinheiro para coisas como férias, um carro novo, fundos para a faculdade e reforma.
Ensinar as crianças a consertar as coisas quando elas se estragam, em vez de deitar fora ou comprar algo novo.
Evitar “terapia de compras” ou fazer compras com o objetivo de se animar.
Sugerir um período de reflexão para compras mais caras, de forma a evitar compras impulsivas.
Quando os pais demonstram bons comportamentos desde cedo, as crianças absorvem os mesmos e desenvolvem hábitos próprios e positivos, passando a gerir ainda melhor o seu próprio dinheiro no futuro.
Trabalho de casa.
Muitos pais não falam sobre dinheiro com os filhos porque eles próprios não têm conhecimento suficiente para se sentirem confortáveis ao fazê-lo. Por isso é que escondem ou mudam a conversa quando o tema é dinheiro. Muitas vezes a vergonha e o não querer preocupar os filhos também leva a que estas conversas sejam menos comuns. Por isso, por ordem, fica aqui o TPC deste artigo:
Falar com os filhos sobre assuntos que percebes e introduzir temas básicos como o preço unitário (conceito introduzido no e-book) e poupança desde cedo.
Investir na educação financeira dos filhos remetendo-os para livros ou outros recursos de quem perceba mais que tu.
Caso os teus filhos não sejam dos sortudos de já ter educação financeira na escola, ficam aqui os Cadernos de Educação Financeira gratuitos do Ministério da Educação e Ciência.
Aumentar a tua própria educação financeira. Consumir newsletters como a nossa, falar com um contabilista ou com amigos mais experientes são ótimas formas de garantir que estás equipado para explicar conceitos financeiros aos teus filhos e criar bons hábitos.
Bora lá criar gerações futuras mais literadas financeiramente!
Outras referências
Child Mind Institute - Talking to Kids About Money
Teaching your children about money
Excelente artigo, muitos parabéns! Às vezes os pais não falam sobre dinheiro com os filhos por vergonha ou porque, tal como vocês referem, eles próprios têm poucos conhecimentos de literacia financeira - mais uma razão para investirmos em nós próprios, para os nossos filhos também aprederem!
Ao ler este artigo, lembrei-me da minha infância e do quanta sorte tive! O meu nível de literacia financeira sem dúvida começou em criança, pois tive mesada e passei por essas experiências de perceber quem tem mais e quem tem menos.
O dinheiro continua a ser tabu, mas temos mesmo de mudar!