🥕 Investir com propósito: será possível investir de forma sustentável e lucrativa?
Bem-vindo a mais um artigo d’o amador financeiro. 👋 Desta vez, contamos com a ajuda a Maria Loureiro, entusiasta em investimentos sustentáveis e lucrativos também. Ela vai-te mostrar como é possível fazê-lo.
Será que podes alinhar os teus investimentos com os teus valores, sem comprometeres o retorno financeiro? Neste artigo, vamos explorar o mundo dos investimentos sustentáveis e mostrar-te exemplos práticos de como começar.
Sabias que cada euro que investes tem o poder de moldar o futuro do nosso planeta? O teu dinheiro está a trabalhar para o mundo que queres ver?
A verdade é que muitos de nós investimos sem pensar no impacto que estamos a ter no planeta. Se esta é uma preocupação para ti, continua a ler!
Quando comecei a minha jornada em literacia financeira percebi que, se decidisse investir em ETFs que replicassem índices mais gerais, como o S&P500 ou o MSCI World, poderia estar a financiar indústrias que não se alinhavam com os meus valores.
Esta descoberta levou-me a refletir sobre os setores nos quais não queria investir o meu dinheiro, como tabaco e armamento, e a procurar alternativas de investimento mais sustentáveis e conscientes.
Rapidamente percebi que não sou a única a ter estas preocupações!
Segundo dados deste ano (2024), 77% dos investidores globais interessam-se por investimentos sustentáveis, com 57% a reportar um aumento deste interesse nos últimos dois anos. Ainda mais impressionante: 54% planeiam aumentar os seus investimentos sustentáveis no próximo ano 1.
Antes de entrarmos em maior detalhe sobre neste assunto, estamos curiosos para saber:
O ABC dos Investimentos Sustentáveis: ESG, SRI e Investimento de Impacto
Para navegares no mundo dos investimentos sustentáveis, é importante conheceres alguns conceitos fundamentais: ESG, SRI e Investimento de Impacto.
Cada um representa uma abordagem diferente, composta por um conjunto de critérios não financeiros (ambientais, sociais e éticos) que são aplicados para analisar um investimento, o seu retorno e o impacto positivo que pode causar na sociedade e no mundo em geral.
Environmental, Social, and Governance (ESG)
ESG refere-se a fatores ambientais, sociais e de governo que influenciam o desempenho e a sustentabilidade de empresas e ações:
Environmental: Avalia o impacto ambiental (emissões de CO2, gestão de resíduos, etc.)
Social: Analisa questões sociais (diversidade, direitos humanos, condições laborais)
Governo: Examina práticas de gestão (transparência, ética empresarial)
Este é o termo mais geral aquando da classificação de investimentos sustentáveis e é, por isso, o default usado em muitas plataformas de investimentos, englobando muitas vezes os outros dois.
Sendo um termo abrangente, não existe consenso sobre os critérios exatos que deverão ser cumpridos, o que aumenta a probabilidade da ocorrência de greenwashing. Para evitar estas discrepâncias, a Sustainability Accounting Standards Board está a trabalhar na definição de um conjunto de critérios objetivos que possam servir de standard para todo o setor no futuro.
Até lá, quando vemos um investimento classificado como ESG, o que isto traduz na prática é que, em princípio, será um investimento que escolhe práticas mais sustentáveis aquando da seleção das empresas a compôr o seu portefólio (2, 3)
Enquanto um standard não é definido, é importante perceber em detalhe quais os critérios usados e se vão de encontro ao tipo de investimentos que procuramos.
Hoje em dia, já existem ETFs que replicam muitos dos principais indices mundiais mas que excluem empresas que não cumpram com os critérios ESG. Estes indices são facilmente identificados pelo nome “EmpresaGestoraX ESG Screened IndiceY”, por exemplo: iShares ESG Screened S&P 500 ETF.
SRI (Socially Responsible Investing)
SRI é uma estratégia que permite alinhar os valores pessoais do investidor com os investimentos escolhidos. Na prática, o investidor tem a oportunidade de selecionar os investimentos ESG que se focam num tema ético ou ambiental especifico do seu interesse — energia renovável, igualdade de género ou desigualdade em minorias étnicas. Por exemplo, alguns ETFs SRI excluem por completo empresas de armas ou tabaco.
Um exemplo de ETF SRI seria o ETF iShares MSCI Europe SRI UCITS, que reproduz o desempenho do índice MSCI Europe SRI Select Reduced Fossil Fuel. O índice é derivado do índice MSCI Europe e inclui apenas empresas coerentes com valores específicos e critérios baseados nas alterações climáticas. Assim, são excluídas as empresas expostas a combustíveis fósseis através de actividades de extração e produção.
Investimento de Impacto
O Investimento de impacto foca-se em gerar resultados sociais positivos. Neste caso, o objetivo é financiar empresas ou organizações cuja missão é o desenvolvimento ou implementação de soluções sustentáveis e que impactem positivamente a sociedade.
Um exemplo português de uma plataforma focada em investimento de impacto é a GoParity (mais detalhes no fim do artigo).
ESG, SRI ou Investimento de Impacto: Qual a melhor escolha?
Como conseguiste perceber, todas são opções válidas que podes considerar enquanto crias o teu portefólio de investimentos. A tua escolha dependerá das tuas preferências e objectivos:
Se pretendes obter uma ampla exposição aos melhores investimentos em termos de impacto social e ambiental, investimentos ESG podem ser uma boa escolha.
Se por outro lado, existem indústrias nas quais não queres ver o teu dinheiro investido, independentemente das preocupações ambientais e ações de responsabilidade que possam ter, o SRI permite-te salvaguardar essa situação.
Se quiseres garantir que o teu dinheiro é usado em projetos com impacto positivo no mundo, enquanto gera algum retorno financeiro, então podes optar por investimentos de impacto.
Finalmente, e seguindo a boa prática de “não coloques todos os ovos no mesmo cesto”, podes sempre escolher uma percentagem do teu portefólio para um ou mais deste tipo de investimentos.
Mito ou Verdade: Investimentos Sustentáveis Têm Menor Retorno?
Uma das maiores preocupações que muitos têm ao considerar investimentos sustentáveis, e que eu própria também tinha, é: Vou perder dinheiro? Felizmente, a resposta é encorajadora!
O Morgan Stanley Institute for Sustainable Investing realizou um dos estudos mais completos sobre este tema. Analisaram o desempenho de fundos e ETFs sustentáveis durante 14 anos (2004-2018), comparando-os com fundos tradicionais4. Em comparação com investimentos tradicionais, os resultados são esclarecedores:
📉 Os fundos sustentáveis apresentam menor risco de perdas.
✅ Não existe perda de rentabilidade em fundos sustentáveis em relação aos tradicionais.
💪 Em períodos de alta volatilidade, demonstram maior estabilidade (nomeadamente durante a pandemia Covid19).
Esta é uma excelente notícia para quem quer investir de forma mais sustentável, sem comprometer os seus objetivos financeiros!
Greenwashing nos Investimentos: O Que Saber e Como Evitar
Como já vimos no início do artigo, hoje em dia, as empresas e os fundos podem ter critérios muito diferentes no âmbito da sustentabilidade. Sem um gold-standard para a classificação destes investimentos, torna-se difícil comparar diferentes oportunidades em função dos factores ESG. Esta discrepância aumenta o risco de greenwashing neste setor.
Greenwashing acontece quando uma organização faz uma afirmação infundada ou exagerada sobre o facto de os seus produtos ou serviços serem “amigos” do ambiente.
Muitas empresas que pretendem atrair investidores utilizam certas palavras-chave, como “sustentável” ou “verde”, para chamar a sua atenção.
Questiona-te sempre sobre estas expressões: por exemplo, se estiveres a investir através de um fundo, podes ver os critérios utilizados para avaliar se uma empresa é adequada. Só porque um fundo se descreve como “verde”, não parte do princípio que só investe em empresas que têm um efeito positivo no ambiente.
Entretanto, temos boas notícias para investimentos na União Europeia!
No início deste ano (2024), a União Europeia adotou o Regulamento sobre a Transparência e Integridade das Atividades de Classificação de ESG (ESGR), tornando-se a primeira jurisdição a regulamentar formalmente o mercado de classificações ESG.
Este regulamento exige que os fornecedores de classificações ESG que operam na UE cumpram princípios específicos de organização e governação e divulguem as metodologias, modelos e pressupostos utilizados nas suas classificações. Além disso, impõe requisitos rigorosos para a gestão de conflitos de interesse, visando aumentar a transparência e confiança dos investidores. Esta regulação visa mitigar riscos de greenwashing, ao padronizar critérios e processos, tornando mais fácil para investidores avaliar se os fundos e empresas são realmente sustentáveis5.
Como Podes Começar a Investir de Forma mais Sustentável? Opções Práticas!
Agora que já sabemos o significado dos termos ESG, SRI e Investimentos de Impacto, e percebemos que não há necessariamente uma perda de retorno ao investir tendo em conta estes critérios, vamos ver algumas opções práticas para quem quer começar a investir de forma mais sustentável:
1. ETFs Sustentáveis
No artigo O milagre e o bom investimento (Parte 2), percebemos que uma das formas mais simples e rentáveis de fazer investimentos, principalmente para amadores como nós, era através da compra de ETFs.
Ora, uma das formas mais simples de começares a investir de forma mais sustentável é escolheres ETFs que tenham em conta um, ou mais, dos critérios que falamos anteriormente. A boa notícia é que a maioria das plataformas de investimento já têm incorporado um filtro de sustentabilidade para te guiar nesta escolha:
Quase todas as corretoras, nomeadamente Interactive Brokers, Revolut e Degiro, têm filtros de classificação de ETFs.
Tanto a justETF como a MorningStar, muito úteis na comparação de ETFs, têm um filtro para ETFs sustentáveis, assim como vários artigos com recomendações das melhores opções e esclarecimentos sobre os critérios usados em cada um.
2. GoParity
Seria impossível fazer um artigo sobre investimentos sustentáveis e não mencionar a GoParity!
A GoParity é uma plataforma portuguesa de investimento de impacto, que permite investir diretamente em projetos sustentáveis com retornos transparentes e impactos mensuráveis.
Os projetos financiados pela Goparity estão em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e são sujeitos a uma rigorosa avaliação de risco e viabilidade financeira, na qual são categorizados de A+ a D (A+ menor risco e D maior risco).
É importante saberes que os investimentos na GoParity consistem em *crowdlending (*P2P) e, portanto, têm um risco muito mais elevado quando comparados com os habituais ETFs6.
Conclusões
Hoje aprendemos conceitos fundamentais, como o ESG e o SRI, que ajudam a guiar os nossos investimentos de acordo com valores ambientais, sociais e de governo. Além disso, vimos que, ao contrário do que muitos pensam, investir de forma consciente não é sinónimo de perder dinheiro — os dados mostram que o desempenho pode ser tão bom (ou até melhor) que os investimentos tradicionais.
O mais importante é percebermos que há opções acessíveis e práticas para começar, desde ETFs sustentáveis até plataformas de investimento de impacto como a GoParity, e que os retornos são competitivos com os investimentos mais tradicionais.
O mundo está a mudar rapidamente, e os nossos investimentos podem ser parte da solução.
Trabalho de Casa
Reflete sobre quais os valores que são mais importantes para ti num investimento.
Revê a tua carteira atual e identifica investimentos que possam não estar alinhados com os valores que definiste.
Caso faça sentido, estabelece uma meta de % da tua carteira para investimentos sustentáveis e começa a fazer essa transição!
Disclaimers
Este artigo não constitui aconselhamento financeiro.
É importante notar que os investimentos sustentáveis têm sido alvo de debate recentemente, principalmente nos Estados Unidos. As criticas apontam para a prática de woke capitalism e o abandonar do dever fiduciário, sendo que alguns legisladores republicanos aprovaram leis que tentam proibi-lo. Existem vários artigos a explorar a validade destas questões, caso tenhas interesse em ler mais:
Fontes/Referências
“Sustainable Signals” report (2024) pelo Morgan Stanley Institute for Sustainable Investing e Morgan Stanley Wealth Management
Track Insight, How to invest sustainably: ESG vs SRI vs Impact Investing
Doutor Finanças, O que são plataformas de investimento peer-to-peer?